Todos nós temos memória. Geralmente a associamos ao que lembramos do passado. Porém, muitas vezes esquecemos que, por mais que o foco seja o passado, a memória é sempre presente. Não vejo aquela conhecida frase - "quem vive de passado é museu" - como uma frase que tenha algum sentido. Sem memória não sabemos quem somos, não sabemos como agir, não sabemos o que pensar. Agimos hoje, pensamos o presente e o futuro, mas com toda uma bagagem de experiências pretéritas.
Lembramos o passado, mas sempre restritos a nossa experiência de vida. Antes disso, podemos saber algo graças às memórias de nossos pais, nossos avôs, etc. Quando queremos saber mais, partimos para outras fontes de conhecimento do passado.
No que diz respeito à história de Cruz Alta, foram produzidos livros que falam sobre o assunto, cadernos de poesia, diversos documentos históricos, etc. Além disso, todo ano, músicos de todo o Estado se apresentam na Coxilha Nativista, escrevendo músicas sobre a cidade. “Tropa ponta cortada”, “Terra Saudade”, “A hora do sétimo anjo”, entre outras.
Não esqueço um seminário que assisti no segundo semestre de 2010, onde o palestrante argumentava sobre a importância de conhecer outros passados. Segundo ele, somente assim as pessoas podem se sentir mais livres para construir sua identidade.
É aí que entra o nosso papel enquanto arqueólogos. Nosso foco principal – diferente dos historiadores - não são os documentos escritos. Usamos a materialidade para entender o que não lembramos, e muitas vezes para entender aquilo que os documentos escritos não falam. “Conversamos com as pedras”, conforme um professor nosso dizia. Essas pedras dizem respeito a outras histórias da região onde vivemos, às quais não conhecemos muito bem. Através das pedras sabemos algo sobre o antigo modo de vida dos primeiros habitantes da América, que viveram no lugar onde hoje vivemos.
E essa é só uma das histórias. O que dizer dos casarões do século XIX e início do XX, destruídos em favor da modernidade, do progresso? Nós enquanto cruzaltenses podemos escolher aquilo que queremos como patrimônio da nossa cidade. Enquanto alguns se preocupam em apagar a materialidade do passado, como uma borracha apagando uma boa história escrita pelo lápis, outros se preocupam em manter o que resta dessa materialidade, dessa história. Cruz Alta não é somente a cidade de Érico Veríssimo ou a cidade da lenda da panelinha. Cruz Alta é bem mais que isso.
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