segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Arqueologia no Arroio Cambará

     Estaríamos trabalhando durante essa semana em uma campanha de escavação no Arroio Cambará, próximo ao campus universitário em Cruz Alta. Estávamos nos planejando para sair de Pelotas no dia 12/11. Tudo organizado; materiais de campo, planejamento financeiro, equipe, etc. Já contávamos com a portaria do IPHAN autorizando a pesquisa, e dias atrás recebemos por e-mail a resposta da reitoria da Universidade nos autorizando a entrar na área.
     Porém, na véspera da viagem, recebemos a notícia de que o local onde estão os sítios arqueológicos é uma área de proteção ambiental, caracterizada como tal a partir das atividades do Centro de Estudo, Pesquisa e Preservação Ambiental – Unicruz. Contatados pela reitoria da Universidade, fomos informados de que O CEPPA possui um regulamento no qual diz que não é possível realizar intervenções geológicas na área. Desse modo, precisaríamos enviar um projeto ao curso de Biologia, que autorizaria ou não nossa pesquisa. Além disso, nos foi solicitado mais um documento que não havia sido solicitado antes, confirmando-nos enquanto alunos (e, no caso do coordenador da pesquisa, professor) da Universidade Federal de Pelotas e vinculando a pesquisa a um projeto de dissertação de mestrado. Tudo isso na tarde de sexta, quando preparávamos a viagem para a manhã seguinte.
     O resultado final é que... Ficamos em Pelotas. Não tivemos tempo hábil para reunir os novos documentos e iniciar as pesquisas na data prevista. Como tudo aconteceu na sexta-feira, e considerando que a segunda foi feriado, teríamos que aguardar até a terça para entrar em contato novamente com a Universidade. Agora, nos resta resolver essa questão para que a pesquisa arqueológica no Arroio Cambará possa ser desenvolvida o quanto antes.
     Antes do adiamento, preparamos um post para falar um pouco do que seria feito nesta semana. Segue abaixo:

     Durante essa semana estaremos realizando trabalhos de campo nos sítios arqueológicos próximos ao campus universitário – Unicruz. Essa campanha faz parte de um de nossos projetos, sobre a ocupação de grupos pré-históricos na região de Cruz Alta. Esses locais foram identificados a partir das atividades do Núcleo de Arqueologia (Narq – Unicruz) e são os primeiros sítios arqueológicos pré-coloniais encontrados e estudados em Cruz Alta. Antes disso, nenhum sítio arqueológico havia sido encontrado e registrado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
     Iremos abrir pequenas sondagens estratigráficas a fim de identificar possíveis áreas com estruturas de ocupações pré-coloniais, já que até o momento somente coletas de superfície foram realizadas. Nosso objetivo é verificar, nos 4 sítios evidenciados, qual deles apresenta um maior potencial para uma maior intervenção arqueológica baseada em abertura de sondagens maiores, ou seja, um estudo intra-sítio de alguma ocupação pré-colonial.
     O que já sabemos até então, é que são grupos de caçadores-coletores, ou seja, grupos culturais que tinham um modo de vida baseado na caça e coleta de alimentos. Muitos deles eram nômades e vagavam por regiões onde pudessem obter recursos para sua subsistência. Como até agora poucos materiais foram encontrados, temos poucas informações sobre o modo de vida desses grupos. Encontramos muitas lascas de calcedônia, arenito silicificado, basalto, etc., materiais esses ainda não analisados. Além disso, dois artefatos: uma pedra de arremesso polida (material possivelmente utilizado nas atividades de caça) e um “quebra-coquinho”, material comumente associado à ação de quebrar coquinhos, mas que atualmente tem sido vinculado à fabricação de instrumentos em pedra (possivelmente utilizado como uma bigorna).
     É difícil dizer seguramente que grupos eram esses; por viverem em um período no qual não existem registros escritos, o que temos é a sua cultura material como fonte de pesquisa. Essa cultura material, no caso dos sítios do Arroio Cambará, é composta por materiais em pedra lascada e polida; materiais esses utilizados no dia-a-dia desses povos. Com certeza utilizavam outros tipos de matéria-prima, porém, os materiais em pedra são freqüentemente encontrados em função de sua resistência ao tempo.

Exemplo de materiais em pedra lascada e polida utilizados por grupos pré-coloniais (extraído de http://www.brasilescola.com/geografia/desvendando-arqueologia-vi.htm)

     Além de escavar os sítios, pretendemos filmar essa intervenção, a fim de mostrar um pouco como é uma escavação arqueológica. Isso faz parte do nosso objetivo, no que diz respeito à criação do blog, que é mostrar o quão rico é o potencial arqueológico do município.
     Conhecer a história de Cruz Alta deveria não ser só importante para quem estuda História, Arqueologia, etc. Cruz Alta é recheada de lendas e textos que atestam a presença de variados grupos culturais na região. Isso diz respeito às origens do município e também à identidade da sociedade cruzaltense. No caso dos grupos indígenas, estes estavam vivendo ali há muito tempo, e a Arqueologia pode criar novas interpretações e conhecer um pouco da história desses pioneiros.

Um comentário:

  1. Temos aqui no interior de Toropi na localidade de Santo Inácio, um sitio onde encontrei mais de 100 peças destas da foto, e tambem o lugar onde eram talhadas as pedras, por incrivel que pareça ninguem da valor pra isso nem mesmo a imprensa se interesa em fazer uma reportagem, o que tenho aqui, a quantidade de material não se encontra nem em museus

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