quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Parabéns Cruz Alta
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Para saber um pouco mais da história de Cruz Alta
terça-feira, 28 de junho de 2011
Experiência e cotidiano de um jovem boleeiro na Cruz Alta republicana.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
A engenharia da terra
sábado, 14 de maio de 2011
Arqueologia de contrato, ou por que um arqueólogo abandona seu blog
domingo, 24 de abril de 2011
Cruz Alta Arqueológica no Diário Serrano
terça-feira, 12 de abril de 2011
Conferência cultural Diálogos culturais
A Conferência tem por objetivos discutir e apresentar propostas para a política cultural em nível local, regional e estadual, o Sistema e o Plano Estadual de Cultura, além de dar início à construção de colegiados setoriais de cultura no Rio Grande do Sul.
A Conferência é aberta à participação de todos.
Não sei vocês, mas nós estaremos lá.
Um sistema de assentamento pré-histórico

Como já havia afirmado anteriormente, recentemente evidenciamos sítios arqueológicos pré-históricos em Cruz Alta. Vestígios de grupos indígenas do passado que ocuparam a região muito antes do período colonial. Sabemos que se trata possivelmente de uma ocupação de grupos que possuíam um modo de vida baseado na caça e coleta de alimentos. A figura acima – que não representa algum grupo cultural específico – ilustra um pouco sobre o modo de vida desses povos.
Como a escavação programada para o fim de 2010 apresentou alguns imprevistos, realizei uma pesquisa em sítios arqueológicos encontrados na região – através do cadastro eletrônico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – procurando identificar sítios com características semelhantes aos sítios encontrados em Cruz Alta. O entendimento sobre a cultura material pré-histórica da região pode identificar uma possível relação entre os sítios encontrados com outros identificados e cadastrados no IPHAN. Essa pesquisa ainda está em andamento, já que este mês pretendo visitar alguns lugares onde poderei encontrar mais informações sobre as prospecções arqueológicas realizadas no noroeste do Rio Grande do Sul. Enquanto não realizo essa investigação, exponho algumas observações a respeito do estudo dessas sociedades pré-históricas.
Alguns arroios que cruzam o município são afluentes da bacia do Rio Ijuí. Por sua vez, essa bacia hidrográfica faz parte da bacia do Rio Uruguai, curso de água que abriga próximo às suas margens, os sítios arqueológicos – associados a grupos de caçadores-coletores – mais antigos do Estado. Em períodos mais recentes, nota-se aparecimento de outros sítios arqueológicos na bacia do Rio Ijuí, ou seja, a concentração de sítios arqueológicos que existia ao longo do Rio Uruguai, agora começa a se distribuir por outras áreas do Estado.

Por fim, pensei em entender esses sítios localizados em Cruz Alta a partir de um possível sistema de assentamento dos grupos pré-históricos, isto é, perceber a possibilidade dos 5 sítios arqueológicos evidenciados serem parte de um mesmo sistema cultural, ou não. É possível, quem sabe, averiguar esse tipo de constatação a partir da escavação dos sítios. Porém, os imprevistos aconteceram – tanto na banca de qualificação da dissertação, quanto no que diz respeito à escavação que não aconteceu – e é importante agora prosseguir buscando alternativas para se estudar Pré-História em Cruz Alta.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Voltando à programação normal.
quarta-feira, 2 de março de 2011
"Belas fachadas, não?"
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Lendo Erico Veríssimo
A literatura brasileira sempre registrou as grandes transformações sociais, adquirindo com freqüência um aspecto documentário para trazer ao debate as profundas alterações das forças detentoras do poder econômico e político. Daí porquê, no caso de Érico Veríssimo, a ficção nunca se desvinculou da função de instrumento válido para a interpretação da realidade circundante.Hoje, gostaria de falar um pouco de como a literatura tem me ajudado a construir um quadro mais completo daquilo que busco na minha pesquisa. Recentemente li "Solo de clarineta", de Erico Veríssimo. Na verdade, o primeiro de dois tomos de uma edição de 1980. Confesso que até então carregava comigo um certo preconceito com o escritor. Nada contra sua obra, afinal não a conhecia diretamente. Contudo, nunca fui afeito às associações do tipo "Cruz Alta: terra de Erico Veríssimo" e isso de certo modo fez com que não tivesse muita vontade de lê-lo.
Ainda em Pelotas, em fins de 2010, encontrei no Sebo Icária (na Dom Pedro II 838, pertinho da praça Cel. Pedro Osório, no centro... vale a viagem) alguns volumes por um preço razoável. Comprei "O continente" 1 e 2, "Incidente em Antares" e uma edição em dois tomos de "Solo de clarineta", que por ser um livro de memórias do escritor foi o primeiro que decidi ler. Sem tomar o livro como uma verdade absoluta, mas considerando-o exatamente o que é - um livro de memórias - queria tentar compreender como Erico lembrava de sua vida no período em que aqui viveu. Por quais ruas andou, que personagens conheceu, de que atividades sociais participou... Fui imediatamente absorvido pelo livro, pelo estilo, pela narrativa. Por mais de uma vez me percebi sorrindo e concordando com diversas opiniões e reflexões do romancista. Em determinado trecho do livro, ao falar sobre a ideia de produzir seu romance histórico "O tempo e o vento", Erico escreveu que
Para o menino e para o adolescente – ambos de certo modo sempre presentes no inconsciente do adulto –, o poético, o pitoresco e o novelesco eram atributos que raramente ou nunca se encontravam em pessoas, paisagens e coisas do âmbito nacional e muito menos do regional e ainda menos do municipal. Nossos livros escolares – feios, mal impressos em papel amarelado e áspero – nunca nos fizeram amar ou admirar o Rio Grande e sua gente. Redigidos em estilo pobre e incolor de relatório municipal, eles nos apresentavam a História do nosso Estado como uma sucessão aborrecível de nomes de heróis e batalhas entre tropas brasileiras e castelhanas. (Ganhávamos todas). Nossos pró-homens pouco mais eram que nomes inexpressivos, debaixo de clichês apagados, em geral de retícula grossa: sisudos generais, quase sempre de longas costeletas, metidos em uniformes cheios de alamares e condecorações; estadistas de cara severa especados em colarinhos altos e engomados. [...] Concluí então que a verdade sobre o passado do Rio Grande devia ser mais viva e bela que a sua mitologia. E quanto mais examinava a nossa História, mais convencido ficava da necessidade de desmitifica-la.Ler este trecho foi uma boa surpresa. O que Veríssimo escreveu relaciona-se diretamente com nossos objetivos de demonstrar que outras dimensões da história podem ser estudadas a partir dos vestígios arqueológicos. A ficção sem dúvida trata de pessoas muito mais reais que os generais, coronéis, políticos e estancieiros que por vezes a história parece tratar, uma vez que ela é escrita muitas vezes com base exclusivamente em documentos oficiais, administrativos, judiciais, cartoriais. Desse modo, fui buscar no solo de clarineta de Erico as memórias registradas por este conterrâneo que vivenciou por um período de sua vida a paisagem urbana e social da Cruz Alta durante parte do século XX. Um registro de modo algum mais neutro ou verdadeiro que o de um historiador, mas muito mais pessoal, mais espontâneo, mais vivo... Uma visão posicionada, é claro! Erico olhou Cruz Alta de sua própria posição social e a partir de suas idiossincrasias individuais. Se tivesse hoje em mãos as memórias de um peão de estância, de um neto de escravos, de uma lavradora que viveu da extração da erva-mate ou de um comerciante, teria representações diferentes da cidade e de suas pessoas. (E como seria bom se estas memórias hipotéticas realmente existissem...).
Ao falar de sua vida familiar, das andanças com os amigos, dos personagens que frequentavam seu meio social, Erico fala de uma Cruz Alta que raramente aparece nos livros de história, e realmente colabora na desmitificação dessa história no momento em que fala de pessoas comuns, vivendo suas vidas cotidianas. Vidas mais parecidas com as nossas (com a minha, pelo menos). O escritor descreve personagens cujos nomes não ficaram imortalizados nas placas das esquinas ou nas fachadas das escolas; fala de práticas sociais que se davam em outros planos que não os movimentos revolucionários e decisões políticas - embora obviamente ligadas a estes. E mais importante, ao menos para os meus objetivos, fala sobre como foi viver na Cruz Alta de outros tempos.
Apenas para ficar em um exemplo, em dado momento Erico fala sobre a cidade.
Como era Cruz Alta em 1926? Ora, era uma cidade sem rios nem lagoas, plantada em cima dum coxilhão, a quase quinhentos metros acima do nível do mar e dotada de bons ares. Podia-se dizer que seu eixo era a Rua do Comércio, que começava na frente da estação ferroviária e, indo de praça a praça, chegava até umas ruelas baixas e esbarrondadas, onde terminava. De lá avistavam-se as suaves coxilhas em derredor, com seus capões azulados e suas estradas e barrancos, que mais pareciam talhos – ora dum vermelho de sangue de boi, ora dum amarelo-alaranjado – abertos naquelas terras vestidas dum verde vivo e lírico. Umas três ou quatro ruas paralelas ou transversais à do Comércio tinham certa importância. Na sua maioria não estavam pavimentadas de paralelepípedos, de sorte que quando sopravam ventos erguia-se do solo [...] uma poeira avermelhada que deixava, muros casas e caras um tanto encardidos.Comparar é inevitável. Muita coisa é diferente na Cruz Alta de 2011. Por outro lado... a Rua Pinheiro Machado não é ainda a rua do comércio? Não é ainda hoje o centro comercial da cidade? (E o final - ou começo, se considerarmos a atual numeração da Pinheiro Machado - ainda não é uma "ruela baixa e esbarrondada"? Aqueles que como eu moram ou passam por este trecho sabem do que estou falando). Talvez seu antigo nome fizesse mais sentido. Em um determinado momento, porém, foi decidido que um ilustre cidadão merecia uma homenagem, e desde então a rua é de Pinheiro Machado, que desafortunadamente não circula mais por lá.
Mas voltemos à Erico Veríssimo. O fato é que a experiência de ler "Solo de clarineta" não poderia ter sido melhor. Fui completamente envolvido pelo livro. Inicialmente tencionava ler apenas o período referente à vida de Erico em Cruz Alta, mas sua narrativa me enredou de tal maneira que avancei até suas memórias de Porto Alegre, da vida nos Estados Unidos... Ao terminar este livro, de imediato emendei a leitura de "O continente", parte de uma das grandes obras da literatura brasileira, "O tempo e o vento". Trata-se inegavelmente de um livro de história do Rio Grande do Sul, melhor que muitas obras historiográficas que se propõem a tratar do tema. Veríssimo destaca também a famosa belicosidade do gaúcho, mas aqui a vemos não pelos olhos dos famosos generais, mas pela visão das mulheres que esperavam aflitas por seus maridos e filhos, e por estes mesmos, muitas vezes recrutados a força para combater em guerras das quais não sabiam muito bem os motivos. Erico sem dúvida sabia construir personagens densos e interessantes. Na miríade de figuras que o escritor apresenta, tive especial afeição pelo Dr. Carl Winter, médico alemão que se instalou em Santa Fé, e por Fandango, capataz da estância do Angico. O primeiro cativa pelo olhar estrangeiro com o qual acompanha e analisa as comédias e tragédias de Santa Fé; o segundo por sua sabedoria popular, seus causos e ditos, talvez mais verdadeiros que muitos axiomas da ciência. Ambos foram professores, cada um a sua maneira, do jovem Licurgo Cambará, personagem fundamental no segmento d'O sobrado.
Não tenho a pretensão nem a competência necessária para analisar em detalhes a obra de Erico Veríssimo. Apresento aqui a opinião de um leitor que, por pura ignorância, só recentemente dedicou-se a conhecer em maior profundidade o trabalho do romancista.
A experiência de ler Veríssimo esclareceu para mim o motivo de tamanha - e merecida - reverência ao escritor. Reconheço agora o talento e a relevância deste conterrâneo. Todavia, não sejamos ingênuos! Nossos "heróis" são escolhidos e com Erico Veríssimo não foi diferente. Algumas cidades escolhem ser a terra do milho, ou a terra do Papai Noel, ou a capital das missões. Poderíamos ser a terra de Firmino de Paula, a terra de Pinheiro Machado, a terra de Zé da Silva (já fomos a "cidade dos buracos", devido à fama de nossos asfaltos tempos atrás...). Em algum momento, escolheu-se que esta seria a terra de Erico Veríssimo, e isso obviamente se refere a um tipo de imagem que a cidade quer representar de si mesma; à possibilidade de atrair turistas não só ao museu, mas ao nosso comércio, etc... Associar a imagem da cidade a um de seus mais conhecidos cidadãos, escritor de fama internacional, traz benefícios econômicos, sociais, políticos...
Interesses diversos permeiam a representação de passado que uma cidade faz e, como dizem, "são os vencedores que escrevem a história". Aqueles cujos nomes são dados à praças, ruas ou escolas são escolhidos por algum motivo. Não são representantes naturais de nosso passado; foram colocados nesta posição. Posso não saber quem foram Pinheiro Machado, Venâncio Aires, Margarida Pardelhas, Annes Dias, General Osório e tantos outros nomes que vejo pelas ruas de Cruz Alta, mas o fato de ter que conhecer estes nomes para me localizar espacialmente garante que eles permaneçam entre nós, que sejam lembrados. E desse modo, parecem ser os únicos personagens importantes de história cruzaltense, quando não são. Não me entendam mal, não estou advogando a negação ou o esquecimento destes personagens. Tiveram certamente papel importante na história da cidade e merecem ser estudados e lembrados. Contudo, um pouco de senso crítico não faz mal a ninguém. Por que apenas eles? Militares de alta patente podem ter pensado as estratégias de combate, mas foram quase sempre os peões, lavradores e escravos que mataram e morreram nas guerras. As decisões políticas ditaram os rumos da economia e da sociedade, mas foi no cotidiano, no ordinário, na prática social, que estes rumos adquiriram forma e substância. Uma famosa professora só pode assim ser reconhecida por ter tido papel importante da vida de seus alunos. Ninguém faz nada sozinho.
O passado passou (óbvio!), e não tem existência concreta. Tudo que temos são documentos, objetos, fotos... vestígios, ou seja, fragmentos do passado que sobrevivem no presente. Historiadores e arqueólogos utilizam-se destas fontes, selecionam, organizam, esquematizam, e por um exercício intelectual preenchem as lacunas. E neste sentido, a história não é descoberta. É criada.
Contudo, se Cruz Alta tem que ser a terra de alguém, Erico Veríssimo é, afinal, uma boa escolha...
REFERÊNCIAS
CHAVES, Flávio Loureiro. História e literatura. Porto Alegre: Ed. Universidade-UFRGS, 1999.
VERÍSSIMO, Erico. O tempo e o vento - O continente I. São Paulo: Globo, 2000.
VERÍSSIMO, Erico. O tempo e o vento - O continente II. São Paulo: Globo, 2000.
VERÍSSIMO, Erico. Solo de clarineta I. Porto Alegre: Editora Globo, 1980.